2 de Ouros: e se você admitir para si mesmo a incerteza da vida?

O 2 de Ouros é a nossa carta do tarot para a Lua Nova de 03/09/24 a 10/09/24 

Talvez você tenha visto no jornal que, há poucos dias, um terremoto de magnitude 5,3 atingiu a região de Lisboa, em Portugal, sendo sentido por pessoas de vários cantos do país. E eu, que moro na parte norte e que nunca havia me atentado para a história dos sismos na parte sul, me surpreendi ao pesquisar um pouco e me deparar com a história do grande sismo de Lisboa em 1755. Você já ouviu falar dele?

Este sismo foi um evento catastrófico que, de uma hora para a outra, praticamente destruiu Lisboa e resultou na perda de muitas vidas, não só pelo abalo em si, mas pelo tsunami e pelos incêndios que ocorreram depois. Isso, por si só, já rende muitas reflexões e um inevitável sentimento de pesar ao olhar para trás.

Mas algo que também me chamou atenção foi o reconhecido efeito desse sismo nos pensadores da época na Europa, já que o acontecimento os fez repensar as “metáforas da fundamentação e do abalo”. Simplificando: eles foram despertados para a incerteza e a fragilidade da vida.

Essas questões são bem profundas, mas por que estou trazendo tudo isso para a nossa reflexão? Porque, ao tirar o 2 de Ouros como carta para a Lua Nova dessa semana, não pude deixar de relacioná-la com essas coisas que andei descobrindo. 

Quando olhamos para a natureza, muitas vezes temos um vislumbre do que a nossa vida realmente é para além das ilusões nas quais passamos grande parte do nosso tempo. Essas ilusões de permanência, de certeza, das estruturas firmes da vida que nunca se abalam, provavelmente estão entre as maiores. 

Isso já foi muito bem falado por aí, mas sempre vale a pena relembrar, inclusive, observando a incerteza da vida pela lente do 2 de Ouros, pois somos levados a pensar também sobre como podemos nos equilibrar diante dela. 

O personagem do 2 de Ouros que tenta equilibrar as moedas é um malabarista. Mas quem olhar rapidamente a carta pode não perceber o mar agitado atrás dele. O cenário não é de calmaria e total segurança. Como se já não bastasse o seu desafio pessoal com as moedas, o malabarista precisa lidar com o fato de que ondas intimidadoras estão bem próximas. 

Mas aquele mar pode simplesmente representar o tal cenário de incerteza no qual sempre estamos como seres humanos que somos, como pode também simbolizar o nosso inconsciente que, como um bom companheiro desconhecido dentro da gente, também é uma caixinha de incertezas, trazendo coisas que nem imaginamos para a superfície. (sabe aquela autossabotagem bem na hora da entrevista de emprego?)

Observe que o movimento do malabarista do 2 de Ouros deve ser preciso e a concentração precisa ser gigante, ainda que ele aparente fazer tudo isso com certo humor e leveza. 

Talvez um bom caminho para nos mantermos equilibrados diante dos nossos desafios e das incertezas da vida seja justamente esse: o de buscarmos a excelência em nossas ações sem deixar de rir um pouco de nós mesmos. Buscar aquela graça da vida que nos salva do terror que às vezes é andar na corda bamba sem saber se seremos capazes de chegar do outro lado ou se um ventinho mais forte, simplesmente, não nos derrubará. 

Mas essa leveza só vem fora do pacote da ilusão da certeza quando aceitamos que nada é garantido nessa vida. E então conseguimos rir um pouco e ser “otimista com os pés no chão” enquanto fazemos o melhor que podemos fazer.

A urgência de admitir a incerteza da vida é real porque nos prepara um pouco para aqueles cenários conturbados que, inevitavelmente, vamos viver, seja por causa de um emprego perdido, de uma instabilidade econômica, de um namoro terminado ou de qualquer outra coisa que nos desestabilize. Seja por algo bem simples ou por algo assustadoramente complexo. 

Mais preparados, pode ser mais fácil termos algum equilíbrio, um bom jogo de cintura, aquela tal resiliência e uma boa dose de leveza.

Tentar viver como se a vida fosse uma piscina tranquila em uma varanda coberta, sempre sob o nosso controle, é negar a dinâmica da nossa existência - e isso é bem perigoso. 

Como no 2 de Ouros do RWS Tarot, a vida é um mar de muitas ondas, ora mais calmas e gentis, ora agitadas e assustadoras, mas sempre em movimento. Que bom que podemos aprender a navegar por elas. 

Nessa Lua Nova, respire fundo, alongue o seu corpo e abra o coração para a incerteza da vida. Pode acreditar: a cada cantinho que abrimos para ela, nos libertamos um pouco mais. E aí, você aceita esse convite?